Esta é a minha declaração de ódio. A minha declaração de amor a todos os seus contrários. Nunca confiei no amor. A minha mãe sabia disso. Cedo me explicou que o amor era uma “experiência colectiva” (colectiva a dois, pois está claro) intelectualizando o assunto na esperança que eu lhe achasse algum interesse.
À distância dos anos acho que na altura pensava simplesmente em como seria foder. Fazer amor, como diria a minha mãe.
O amor sempre me pareceu uma questão política, algo estritamente necessário para preencher o vazio que se segue à paixão. Do amor nunca esperei nada. Não me parece plausível estar à espera de algo se não sabemos realmente se existe. Entreguei-me à paixão, nunca ao amor. Se o fiz foi engano. Surgia antes um verdadeiro comprometimento em mim. Uma vontade de mostrar que amava, e fazia-o de facto.
Ao longo dos anos eventualmente perdi toda a noção de mim.
É que, resultando a situação no caso do amor, rapidamente me encontrei aplicando-a a todas as situações. Usei isto como uma desculpa para a minha perda permanente de consciência, para a minha recusa quase genética em acreditar que todos podemos amar.
Agora, vim embora sem memórias minhas. E onde estou não há saudades…
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