Sean Riley & The Slowriders – A viagem continua

lux_valsa-06

Conhecem os mitos do rock’n’roll, as aventuras da folk, as personagens da soul. Conhecem essa história tão bem que inventaram uma para si. E cantam-na de forma tão convincente que não há espaço para a suspensão de descrença. Acreditamos neles, seguimo-los. Sean Riley & The Slowriders. Apresentam o segundo álbum, “Only Time Will Tell”, dia 5 de Junho.

Bob Dylan nunca parou de nos explicar como é que funciona. Obliterou o passado de miúdo obcecado com o rock’n’roll, chegou a Nova Iorque de viola às costas e inventou um percurso de deambulações pelo sul dos Estados Unidos, trocando canções com bluesmen e oferecendo outras, suas, ao povo com que se cruzava.

Pegou na guitarra, lá em Greenwich Village, e cantou as canções do cancioneiro oficial. Pegou na guitarra, passou os olhos pelas notícias do jornal e misturou tudo: as notícias, as canções de Woody Guthrie e do Reverend Gary Davis, os homens que vagueavam, misteriosos, rua fora, e aqueles outros que se passeavam pelas páginas das enciclopédias e dos romances que o ocupavam em casa de amigos mais abonados que ele, miúdo de 20 anos acabado de chegar a Nova Iorque vindo de Duluth, terriola do Minnesota.

Bob Dylan, esse que agora que está perto dos setenta, nunca parou de nos explicar que a folk e a pop e o rock’n’roll são feitos disto: uma suspensão da descrença que não o é realmente – não chegamos a descrer, porque ali se transporta uma verdadeira realidade.

Sean Riley & The Slowriders, eles que se estrearam com um disco que era despedida (“Farewell”, assim se intitulava o álbum de 2007), são versados em tudo isto. Na voz e na lírica de Sean Riley há cenários bem definidos vindos de locais não identificados – são estrada aberta, são quatro paredes de um quarto de motel, é o papel de uma carta ou a arcada de edifício antigo. Há isso cantado com verve de cantautor, um que sabe que a verdade é demasiado aborrecida para estragar uma boa história. Com ele, está Filipe Costa, o homem convoca balanço soul e o gin do blues para piano e órgão Hammond; está Bruno Simões que, entre guitarradas de som imaculado e precisas linhas de baixo, encarna o rock’n’roll como inventado por tipos de Memphis e Detroit; e agora, para dar consistência a tudo, juntou-se-lhes Filipe Rocha, “beat master” apropriadamente cool. O gangue está completo e a viagem continua.

Depois de “Farewell”, “Only Time Will Tell”. É o novo álbum, aquele que apresentam no Lux, dia 5 de Junho. Um álbum de quem absorveu tão profundamente as histórias da blues e da folk, as mitologias do rock’n’roll e daqueles que o construíram, que acabou por criar uma história para si. No vídeo do primeiro single do novo álbum, “Houses and Wives”, aceleram em estreita estrada secundária, a perder de vista e rodeada de vegetação. Instalam-se numa clareira. Não há ninguém em volta mas eles cantam: “Gotta move on with our lives / Pretty houses and wifes / That just ain’t for me”.

Ali, não conhecemos nada do seu passado. Ei-los que chegam. De Duluth, no Minnesota? Nunca saberemos. Nem perguntamos. É mais importante vê-los chegar do que perguntar de onde vêm.

0 Responses to “Sean Riley & The Slowriders – A viagem continua”


Comments are currently closed.