Magda

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Polaca, americana, berlinense. Minimalista, tecnológica, criadora voraz. Magda representa a sensibilidade techno mas também um manifesto: do techno pós-moderno! 

É lugar-comum nas conversas mais acérrimas sobre música de dança que “não se faz nada de novo”. Tudo igual, nunca mais aparece um género, é só reciclagem de ideias, longe vão os vibrantes anos 90. Ainda assim, tanta ânsia de consumismo pela next big thing, e tem-se poupado um olhar mais aprofundado sobre os intervenientes e os seus círculos artísticos para que pudéssemos apreender que a música de dança vive uma época bem mais rica e sincronizada com o dinamismo cultural do que vulgarmente se julga. Tomemos o exemplo da Minus, núcleo de artistas e editora da cultura dominante da dança moderna – leia-se techno minimal –, encabeçada por Richie Hawtin, e secundada por artistas como Magda, convidada do Lux em Julho.

A Minus é mais um movimento pós-modernista do que um mero grupo de DJs. Desde logo pela estética, o minimalismo. Mais, tal como a arte pós-modernista, alinha-se pelo pluralismo – desdobra-se por várias plataformas criativas, além da música (nas artes plásticas, com Matthew Hawtin, na videoarte de Ali M. Demirel e na moda com a marca Richly.Hawtin); promove novos meios de expressão (evento Contakt; apresentações de discos em Surround 5.1; acordos com marcas de tecnologia Ableton ou Stanton para desenvolvimento de equipamento; criação do twee-jaying: aplicação de DJ para o site Twitter); ainda em paralelo com a música, tem em conta as preocupações do quotidiano (lembremo-nos da campanha “Environmental Awareness Initiative: Minimize Your Impact”, que tenciona dar pegada ecológica zero à Minus). 

Há a ideia de conteúdo narrativo, do papel da tecnologia na evolução, frequentemente pelo ideólogo de serviço, Richie Hawtin: “É a tecnologia que me permite explorar e expressar a minha criatividade”, afirmou em jeito ilustrativo à revista Wired em Novembro de 2003. O elevado domínio técnico do movimento Minus e o de artistas pós-modernistas como Koons, Murakami, Zhang Yuan ou Olafur Eliasson é similar, assim como a sua hibridez cultural, reflectindo a globalização e o desenraizamento.

Magda é um das figuras centrais da Minus, ela própria metáfora da ideia de desenraizado, central no pós-modernismo. Nasceu polaca, filha de artistas plásticos, mas emigrou para os Estados Unidos em 1984, fixando-se primeiro no Texas e em 1986 na cidade de Detroit.  

 “O conceito de casa nunca foi tão claro para ela como é para a maioria de nós”, pode ler-se numa biografia oficial onde se conclui: “Casa não é um espaço físico, é um estado de espírito, quando foi a uma festa num armazém perto do local onde cresceu ela percebeu que tinha encontrado o que mais gostava”.

Logo aí despoleta uma história tão idêntica a milhares de DJs do mundo: começa a trabalhar numa loja de discos, organiza festas de techno no bar onde fazia um part-time e mune-se de gira-discos. Pouco depois vai para Nova Iorque estudar design gráfico mas o apelo à música foi mais forte. 

De regresso a Detroit conhece Richie Hawtin mas foi com outras duas pessoas que aprofunda a amizade: Marc Houle e Troy Pierce. Finais da década de 90 e um embrião de algo mais vasto começava a ganhar forma: a Minus.

Depois de várias viagens de Hawtin à Europa e um crescente desconforto para com a música de dança nos Estados Unidos, o grupo anseia por uma mudança radical. Viver em Berlim seria a passada seguinte e os amigos, DJs e produtores  juntam as peças para se tornar numa força dominante nos próximos capítulos da electrónica dançante. De 2003 em diante, a Minus – abrigo criativo de Magda, Hawtin, Houle e Pierce – torna-se redactor de uma história ainda em desenvolvimento. 

“She’s A Dancing Machine” foi lançado em 2006, uma compilação misturada por Magda como um prelúdio do seu ângulo musical: minimalismo rotundo mas funky, luminoso sem perder um lado surreal, positivo não obscurecendo o senso de apelo à curiosidade. São esses atributos que descobrimos ainda em temas da sua autoria como “Black Leather Wonder”, “Gotham Road”  ou o já clássico “48 Hour Crack In Your Bass”.  Entre ambos os momentos uma carreira DJ que personifica a narrativa da Minus: um conceito, um núcleo, uma estética, uma prática comum. Pós-modernismo techno.

Em Julho poderá haver romaria ao Lux para ouvir Magda. Para além de ser uma das DJs mais proeminentes actualmente, ela é algo mais vasto, uma figura de um movimento que, afinal, faz da música de dança uma prática cultural tão rica como qualquer outra. Só temos é de ir um pouco mais além da dança, algo que com a música de Magda não é exercício complicado, afinal, ela é um dos artistas que dita o presente…

1 Response to “Magda”


  1. 1 Gisela

    I’ll be there tonight :)))

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