Lula Pena
Olha, Maria
Eu bem te queria
Fazer uma presa
Da minha poesia
Mas hoje, Maria
Pra minha surpresa
Pra minha tristeza
Precisas partir
Parte, Maria
Que estás tão bonita
Que estás tão aflita
Pra me abandonar
Sinto, Maria
Que estás de visita
Teu corpo se agita
Querendo dançar
Parte, Maria
Que estás toda nua
Que a lua te chama
Que estás tão mulher
Arde, Maria
Na chama da lua
Maria cigana
Maria maré
Parte cantando
Maria fugindo
Contra a ventania
Brincando, dormindo
Num colo de serra
Num campo vazio
Num leito de rio
Nos braços do mar
Vai, alegria
Que a vida, Maria
Não passa de um dia
Não vou te prender
Corre, Maria
Que a vida não espera
É uma primavera
Não podes perder
Anda, Maria
Pois eu só teria
A minha agonia
Pra te oferecer
“Olha Maria”, António Carlos Jobim, Vinicius de Moraes,
Chico Buarque, 1971
Pedro Cabrita Reis
Foi por vontade de Deus
Que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda a minha saudade.
Foi por vontade de Deus.
Que estranha forma de vida
Tem este meu coração,
Vive de vida perdida,
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.
Coração independente,
Coração que não comando,
Vive perdido entre a gente,
Teimosamente sangrando,
Coração independente.
Eu não te acompanho mais,
Pára, deixa de bater.
Se não sabes aonde vais,
Porque teimas em correr,
Eu não te acompanho mais.
“Estranha Forma de Vida”,
Amália Rodrigues, 1961
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