1000 Caracteres

“ … o que sabemos empobrece ou apaga o deslumbramento que a beleza do mundo devia exercer sobre nós…”, leio na parede da entrada da exposição*, enquanto tento explicar – O pai saiu porque estava sempre a discutir com a mãe, percebes ?
A formalidade não lhe agradou muito. Pre-fere as respostas. Posso ir à casa nova?
A ânsia de saber está na sua natureza, percebo isso. Lentamente o seu espírito curioso começa a desvendar os segredos dos adultos. Não quer saber todos. Entende que isso não lhe dá prazer. O que já lhe cria embates violentos com a ordem das coisas, com a necessidade de organizar a sua vida, os seus momentos com os momentos dos adultos. Por ela, comia quando lhe desse a fome, bebia quando lhe desse a sede e adormeceria quando os próprios brinquedos ficassem cansados. Está curiosa, imagina já um novo quarto com brinquedos novos. Mas o que eu acho que realmente a seduz é ter espaços dela. Reservados. Seus. Fará parte do seu esquema de segurança. A sua realidade é falsamente simples. Mas ela transforma-a na mais fascinante das fantasias. E toma posse do seu lugar no mundo todos os dias. Ela sabe que eles lá estão e sabe que não quer deixar de se deslumbrar. Até dá para rir com o desplante.

*frase de Gérard Castelo Lopes, numa exposição
do mesmo em 2004.

0 Responses to “1000 Caracteres”


Comments are currently closed.