O que sempre quisemos saber sobre Juan Maclean

juan

O questionário é básico, mas as respostas não. Juan Maclean tira a máscara e conta tudo, ou quase, o que gostaríamos de saber sobre o personagem mais enigmático da DFA. Com Elton John, Kiss, Butthole Surfers, sósias de Siouxsie Sioux, álcool, ácidos, livros, filmes e uma caixa de luz para combater a melancolia.

O primeiro álbum de Juan Maclean chama-se “Less Than Human”, o segundo, quase a sair, “The Future Will Come”. Qualquer nerd sci-fi ficaria entusiasmado só com os títulos e traçaria o perfil de Maclean como um homem-máquina, robótico nos motivos e na música, talvez brilhante como Robby The Robot, do Forbidden Planet. Juan Maclean é isso, claro, e as primeiras fotos que conhecemos dele até foram com uma máscara de ferro, mas não é bidimensional como as figuras de BD. Ele tem o que se chama história, experiência ou cicatrizes, se preferirem, que suplantam qualquer personagem que queira assumir. No início dos anos 90, teve uma banda indie rock, os Six Finger Satellite, que gravaram para a Sub Pop, a editora com mais hype na época grunge, mas abdicou de tudo (por razões explicadas abaixo) e entrou num período de reclusão existencial e musical durante anos, até renascer com membro da família DFA, ainda com vocação indie, mas agora de convicção dance. Pelo meio, as clássicas histórias de desamparo e redenção, com drogas e excessos, também intelectuais, à mistura. Não será o perfil comum do produtor de música de dança, mas ele também não é um homem nem um produtor comum. Ainda sob o efeito “Happy House”, um piano house épico com Nancy Whang a fazer de diva, uma das melhores canções de pista de 2008, aguardamos expectantes “The Future Will Come” e o regresso de Juan Maclean ao Lux. Eis uma breve resenha do homem e da sua história.

 

LISTA DE PRIMEIROS

 

Primeira coisa que fazes quando acordas de manhã:

Quando estou em casa, a primeira coisa que faço é ficar na cama com a minha light box, fico a olhar para ela enquanto leio alguma peça de literatura perturbante. Como sou dado à melancolia, a light box ajuda dando uma dose de sol artificial. Amis, Camus, Poe, Ellroy e amigos garantem o equilíbrio

Quando estou em viagem, a primeira coisa que faço é olhar para o endereço no telefone ao lado da cama para saber onde estou.

 

Primeira coisa que fazes quando chegas a casa:

Sento-me paralisado no sofá a descomprimir da transição entre a festa e a solidão e silêncio absolutos. A certa altura vou até aos pratos e começo a pôr discos, dançando em cuecas.

 

Primeiro disco que te lembras de ouvir:

O meu primeiro disco foi “Goodbye Yellow Brick Road” do Elton John. O meu primo mais velho adorava o disco e ele tinha cabelo comprido e bigode por isso admirava-o bastante. Levava o disco para todo o lado, isto era quando eu tinha uns 7 anos e um dia um miúdo mais velho do bairro deitou-me ao chão e levou-o. Daí passei para “Bridge Over Troubled Water” de Simon and Garfunkel.

 

Primeiro disco que compraste:

“Kiss Alive II”. Tinha 10 anos. Havia uma hierarquia no meu bairro baseada na porrada que se dava e em quantos discos dos Kiss se tinha.

 

Primeiro concerto a que assististe:

Os meus pais levaram-me a ver os
Beach Boys. Devíamos estar nos anos 70. Só me lembro de me sentir zonzo por causa do fumo e só muito mais tarde é que me apercebi que o cheiro estranho do fumo era da erva que as pessoas fumavam.

 

Primeiro instrumento que tocaste:

Quando acabei o liceu recebi dinheiro de família e amigos. Houve uma festa e as pessoas deram cartas com dinheiro. Eu juntei tudo e estava a pensar comprar a mota de um vizinho. Quando fui comprá–la, não tinha licença porque tecnicamente tinha-a roubado. Por isso comprei uma guitarra. Praticava obsessivamente todos os dias com a intenção de, num ano, ter uma banda e gravar discos. Formei os Six Finger Satellite e um ano depois assinávamos pela Sub Pop

 

Primeiro concerto que deste:

Não me lembro da data, mas foi num clube em Providence, Rhode Island. Num rasgo de incrível falta de discernimento alguns de nós resolveram tomar ácidos mesmo antes de tocar. Lembro-me de, a certa altura, ter olhado à volta e não fazer a mínima ideia de onde estava, como tinha chegado lá ou do que era a coisa estranha que tinha nas mãos.

 

Primeiro amor:

Acho que foi a minha namorada de liceu. Não sei bem se era amor se falta de resistência. Ela fez-me gostar de punk rock e cortar o cabelo de formas engraçadas. Era parecida com a Siouxsie Sioux, detestava agressivamente os putos populares e fazia-me ver filmes como Liquid Sky, Repo Man e Harold And Maude vezes sem conta. Agora é casada, tem 3 filhos e vive num subúrbio abastado de Boston.

 

Primeira vez que te partiram o coração:

A minha família mudava-se muito quando eu era criança, uma vez por ano em média. A primeira vez que me sentei no carro, recusando-me a dizer adeus aos meus amigos, recusando-me a chorar, lutando contra a frustração e a raiva

 

Primeira experiência com drogas:

Há umas filmagens minhas em super 8, ainda bebé, talvez com um ano, sentado numa cadeira alta a beber uma garrafa de cerveja enquanto os meus pais riem.

 

Primeira vez que encontraste os tipos da DFA:

Bem, eu e o James Murphy somos amigos desde o início dos anos 90. Acho que nos conhecemos no dormitório da NYU (New York University). Tinha um amigo na NYU, e eu estava no quarto dele e ele disse que havia um tipo no andar de cima que também gostava de gravações e também tinha um gravador de 4 pistas.

Conheci o Tim Goldsworthy por volta de 1999. Ele era muito magrinho e usava óculos, muito inglês, fiquei muito impressionado. Disse-me que eu precisava de um computador e de um sampler e pouco depois estava a ensinar-me a programar.

 

Primeiro livro numa lista de 5:

Esta é difícil porque eu sou um leitor voraz. Estes são os livros que eu li mais vezes

1. Crime and Punishment – Fyodor Dostoyevsky

2. The Killer Inside Me – Jim Thompson

3. Laughter In The Dark – Vladimir Nabokov

4. Junky – William S. Burroughs

5. The Stranger – Albert Camus

 

Primeiro filme numa lista de 5:

 

Outra difícil, porque também sou um espectador ávido. Em vez de uma lista, digo que vi recentemente “Let The Right One In”, e esse filme incorpora muito do que gosto no cinema. É muito atmosférico, agarra visualmente, é alegórico e tem uma realização belíssima.

 

Primeira vez no Lux:

A primeira vez no Lux foi com a minha banda, penso que em 2005, mas pode ter sido 2006. Mas sei que foi no Dia de Acção de Graças e lembro-me de jantar no restaurante ao lado do Lux e de pensar que era a melhor comida que alguma vez comera. Tim Sweeney também estava a pôr música nessa noite, ele é um bom amigo, e a namorada, Justine, também estava lá, também é uma boa amiga. Por isso foi muito bom. Excepto quando o Tim Sweeney, bêbedo, tentou curtir comigo.

 

 

TÓPICOS DE REFLEXÃO

 

indie rock vs dance music: 

Enquanto adolescente estive imerso na cena hardcore punk de Boston. Música agressiva, lutas, cortes de cabelo esquisitos, skateboarding, confusão e caos g erais. Fartei-me disso e virei-me para o pós-punk em busca de música mais louca, escura e inspiradora. Quando toquei com os Six
Finger Satellite, na crista da onda indie rock, a cena era muito aberta. As bandas eram muito diversas, Sonic Youth, Big
Black, Butthole Surfers, etc e havia uma ênfase em ser-se o mais poderoso e original possível. Pouco depois, no entanto, tudo se tornou muito colegial e começou a fazer-me lembrar o liceu. Havia um uniforme, os públicos começaram a ter melhor aspecto, os putos populares da escola começaram a aparecer. Foi o fim para mim. Perdi o interesse e deixei os Six Finger Satellite abruptamente. O indie rock tornou-se num som, um género com regras e tudo isso, por isso já não interessa.

A música de dança, por outro lado, é muito mais aberta. É mais uma comunidade, uma celebração da vida, uma forma de juntar as pessoas. E é muito mais experimental do que o indie rock.

 

philipk k dick

Um dos meus autores preferidos, teve uma influência enorme sobre mim. Além dos seus temas de paranóia, controlo governamental e a sua cosmologia, revejo-me de forma muito profunda nas questões que levantou sobre o que significa de facto a humanidade, o que é que nos define como humanos. O filme “Blade Runner” também teve uma grande influência sobre mim.

 

O melhor de ser-se humano

Tudo acaba um dia, não temos que viver para sempre.

 

5 ideias para o futuro

Não tenho nenhuma. Tento apenas sobreviver no dia-a-dia, é suficientemente difícil.

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